Fazer Bem ou Fazer Bonito? O Dilema das Empresas Portuguesas

9/10/2025

Estudos recentes demonstram que os riscos psicossociais, como o stresse crónico, o assédio e o excesso de carga de trabalho, continuam a afetar profundamente os trabalhadores em Portugal. Enquanto que algumas empresas oferecem seguros de saúde limitados ou programas de apoio psicológico superficiais de modo a disfarçar estas lacunas, outras mantêm um modelo de exploração mascarado de eficiência.

As provas são claras: investir em saúde mental não é luxo, é sim inteligência estratégica. Estudos mostram que longos dias de trabalho não levam a uma maior produtividade; pelo contrário, países do sul da Europa, incluindo Portugal, estão entre os menos produtivos da OCDE, apesar de registrarem algumas das maiores médias de horas de trabalho diário. Empresas que ignoram estes dados podem até reduzir os seus custos a curto prazo, mas, a longo prazo, podem vir a perder talento, criatividade e inovação.

Boas práticas contra esta corrente começam por promover o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional, escuta ativa, diversidade e transparência, criando um ambiente onde a saúde mental é uma prioridade e não um pequeno detalhe. Medidas como a semana de 4 dias, já testadas em Portugal com resultados encorajadores, mostraram ganhos na produtividade e na satisfação sem perdas significativas no output. Também os Chief Happiness Officers ou até mesmo os Mental Health Allies, cada vez mais presentes em grandes organizações, atuam como guardiões do bem-estar e da cultura, assegurando que o propósito empresarial não se afasta das necessidades humanas. Estes colaboradores, muitas vezes formados para reconhecer sinais de exaustão e oferecer apoio de primeira linha, criam assim uma rede interna de suporte que complementa os serviços profissionais.

Mas o debate não se limita a cargos ou políticas. Medidas práticas como horários flexíveis, programas de mentoring, incentivos ao voluntariado, pausas regulares no trabalho digital e até espaços físicos que favoreçam a desconexão e a criatividade fazem parte de uma nova visão de liderança. Estas mudanças não são apenas “benefícios” para atrair talento, mas sim pilares de sustentabilidade que asseguram equipas mais resilientes, motivadas e inovadoras.

As organizações que conseguem alinhar ética, atenção para com os colaboradores e responsabilidade social mostram que é possível produzir resultados extraordinários sem sacrificar o bem-estar humano.

Portugal precisa de um debate aberto sobre estas práticas. Está na hora de questionar quem realmente lucra com a exaustão dos colaboradores e de promover uma cultura organizacional que valorize as pessoas tanto quanto os resultados. A saúde mental e a produtividade podem andar lado a lado e este equilíbrio é hoje um critério de competitividade sustentável.

Partilhar

Artigos semelhantes

Outros artigos